sexta-feira, 21 de março de 2008

O Mendigo


E fica o mendigo na paragem à espera do autocarro que teima em aparecer.
Passam mais de 30 por dia mas, mesmo assim, lá Ele está.
O que será que procura quando tenta fazer buracos com as mão no chão de alcatrão.
A procura da felicidade eterna. A procura da recompensa de uma espera que não acaba.
Qual será o dia em que eu passarei por aquela paragem e o velho mendigo não estará à espera do autocarro?
Merecedor de paz. Talvez por tanta espera sem sentido.
Ás vezes tenho vontade de lhe pagar uma viagem no autocarro que ando... Num dos muitos que por lá passam e não o levam.
Mas talvez não seja um passeio que ele queira. Talvez não seja uma voltinha que ele deseje. Talvez esteja apenas à espera do autocarro mágico que o leve e não o traga.
Talvez ele não queira as coisas fúteis que nós tanto ansiamos.
Talvez seja apenas um lar. Uma casa, um abrigo.
Um sítio de quatro paredes que o aqueça em noites de vento e chuva.
Um sítio que o abrigue em tempestades de Alma.
Um sítio que não seja aquela paragem, que tanto lhe prende.
Talvez seja isso mesmo.
Ou tavez não.
Talvez o pobre mendigo seja feliz assim.
Nas ruelas da vida. À procura de vida.

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